terça-feira, 24 de janeiro de 2017

[Traduções] Um ladrão, por Edwin Madrid. Tradução de Maria Eduarda Sousa

Na semana passada publicamos o conto Un ladrón do escritor equatoriano Edwin Madrid, desta vez apresentamos a sua tradução.

Em 2016, 'Mordendo o frio' (AE, 2016) foi o primeiro livro traduzido do autor ao português. Agora, para Ecos Latinos, apresentamos de forma inédita a tradução do seu primeiro conto em português; a tradução foi realizada pela tradutora portuguesa Maria Eduarda Sousa. 

Com a apresentação deste trabalho inauguramos o espaço traduções em nosso blogue, onde serão publicados textos traduzidos, podendo ser contos, poemas, resenhas e ensaios. Os interessados em mandar as suas traduções podem escrever para projetoecoslatinos@gmail.com. 

Boa leitura! 

O ladrão
Autor: Edwin Madrid
Tradução: Maria Eduarda Sousa

EU ESTAVA A DORMIR caladinho, o ladrão abriu a porta com a chave mestra que têm todos os ladrões. Dormia a sono solto, o sono é uma coisa mais bonita que um ladrão, mas ele começou a andar em bicos de pés, dobrando a ponta dos seus sapatos de borracha, não fazia nenhum ruído, imaginava que eu dormia a sono solto junto à minha mulher, que a meu lado dormia como um enorme pássaro que a noite tinha surpreendido na sua migração para o sul. Eu, sonhava com um menino que tinha cabeça de armário, era meu amigo, ria-se quando lhe pedia que fossemos jogar futebol, o seu riso era o ruído das portas. O ladrão, tinha aberto a porta do meu quarto. Precatou-se que sonhava num sonho, e de que a minha mulher dormia como uma andorinha gigante junto a mim. Eu em pleno campo jogando com o cabeça de armário, que ganhava todas as bolas por alto. Dizia-lhe: nos cantos tens que subir, e ele respondia: não louco, depois quem fica atrás, não posso regressar tão rápido. Rapidamente o ladrão fechou a porta, desceu para a sala; ali tirou um saco no qual cabiam o frigorífico, a televisão, a minha máquina de escrever e, sobretudo, a bicicleta da minha filha. Mas quando esteve frente ao televisor, inteligentemente, decidiu comprovar o seu funcionamento, ligou-o justamente quando no écran aparecia Woody Allen em A Rosa Púrpura do Cairo. Eu mandava ao cairo o cabeça de armário, por sua culpa fizeram-nos o primeiro golo, a partida estava-nos a pôr em dificuldades e, em baixo, o ladrão, a morrer de riso, vendo a televisão mas deu conta que fazia muito barulho, assim tapou a boca com as mãos e seguiu rindo com a boca tapada. Mão na área, eu vou disse ao cabeça de armário. Coloquei a bola no sítio e  pontapei-a com força, com fé, a bola no seu voo de andorinha, aninhou-se num costado do arco, devolvendo o sorriso ao rosto do cabeça de armário, enquanto Woody fazia cara de estúpido porque não compreendia o que se passava no seu filme, a personagem saía do écran e falava-lhe. A minha mulher, como um montãozinho de plumas dormindo a meu lado com as asas abertas, uma bola despejada ao vazio à qual chego rompendo a armadilha do ofside e chuto rápido um balázio que esbarra na horizontal, o cabeça de armário entusiasmado grita: Essa é à Madrid! Essa é! O ladrão com o sorriso nas mãos, puxa uma cadeira e senta-se a ver o filme. A minha mulher sonha que é um formoso pássaro que sai voando pela janela; eu, quase esgotado pelo tempo que jogo, aproximo-me do cabeça de armário que suado abre as suas portas e juntos vamos até aos duches. A minha mulher voa pelo céu do bairro enteirando-se do que se passa em cada uma das casas. Sinto um jorro de água que me acalma, e ao mesmo tempo, desperta-me com sede. Acendo a luz, vejo que a minha mulher dorme, docemente, agarrada ao seu travesseiro. Dirijo-me à cozinha, ao atravessar a sala, o ladrão põe-se em guarda, e disse-me: deverias continuar a dormir. Respondo: e você não deveria entrar nas casas a esta hora para ver televisão,  ele responde: é verdade, eu deveria estar a roubar mas o filme está tão divertido que me esqueci ao que vim, e convida-me a sentar. Woody Allen parece estar enamorado da sua personagem. Ah! digo: é A Rosa Púrpura do Cairo, sempre passam bons filmes a esta hora. Olha que não sabia disse-me, o ladrão, amigavelmente. Assim é digo-lhe. Creio que estão a passar um ciclo de Woody Allen; ontem deram Os Dias da Rádio. Se é assim terei que mudar de horário disse. Acho que sim, digo, porque parece muito estúpido que se sente a ver televisão quando deveria estar a roubar. O que se passa é que esperava um anúncio mas a esta hora não souberam passar. Pois admira-me que um ladrão tão instruido não saiba, digo. Bom, disse, olha que não, como a televisão é uma porcaria, nunca imaginei que os bons filmes passem a esta hora e sem cortes de publicidade. Agora, já o sabe, disse, assim que saia da minha casa. Eh pá! Disse, não te parece absurdo que me vá de mãos vazias. De maneira nenhuma, disse-lhe, se leva o conhecimento que os bons filmes passam de madrugada, não crê que é suficiente. Sim,  claro, disse, mas a quem serve, como posso chegar à minha mulher com o saco vazio. Isso é problema seu, disse-lhe, nunca vi um ladrão tão torpe. Assim falavamos até que a minha mulher chegou voando, pousou no espaldar do cadeirão, e começou a gritar como um papagaio: que se passa! que se passa! O ladrão, admirado de ver a sua plumagem, disse: nada, que em vez de entrar a roubar, acabei a ver o filme. Ah! Exclamou a minha mulher, olhando para o televisor, é A Rosa Púrpura do Cairo. Bom filme! E puseram-se a conversar sobre cinema, diretores e atores, até que amanheceu e apareceu a minha filha em pijama trazendo uma formosa rosa azul metálico que entregou ao ladrão dizendo: cortei-a para ti, porque escutei que gostas muito de A Rosa Púrpura do Cairo. O ladrão, quase envergonhado, pegou-a com um sorriso, pôs-se em pé e disse: é hora de partir, estou começando a ter sono. Pois raspe-
-se, disse-lhe, pegando na sua bolsa que lhe lancei ao rosto. O ladrão, abriu de novo a porta e saiu. Ia pensando como a personagem saía do écran e conversava com Allen. Perguntava-se: haverá filmes, nos quais depois de roubar, alguém possa sair do écran e confundir-se entre o público? Caminhava com as suas sapatilhas que à luz do dia eram vermelhas como dois tomates. De repente, um cão começou a ladrar-lhe obstinadamente, lembrou-se que num dos seus bolsos levava comida para entretê-los mas quando ia atirá-la, o cão parou firmemente e disse: O quê! Não dás conta de que sou um cão polícia? O ladrão, cabisbaixo, pegou mais um pouco de comida e lançou-
-lha, o cão apanhando-a no ar e abanando a cauda partiu. Que filme tão bom! Que alguém possa entrar pelo écran na casa de Hudson, de Stallone e roubar-lhes tudo, inclusive os seus gostos sexuais, seguia pensando enquanto saía da cidade e se embrenhava num desses bairros marginais. Viu que um pássaro voava e recordou-se da minha mulher, entrou por uma viela onde um bêbado ao passar ao seu lado, garrafa na mão o saudou: Olá Carlos! Dá um gole. O ladrão, chama-se Carlos, ou mais conhecido como Carlangas o mago, o que ao entrar numa casa desaparece com tudo. Novamente um cão cruza-se, o ladrão exclama: Oh! Um cão, e segue. Na casa da esquina um homem arde em febre. O ladrão observa que dois meninos fizeram um círculo no chão e jogam lançando bolas, um disse ao outro Estás morto! E o outro responde Mentira! Recolhendo a sua bola do círculo. O homem da casa da esquina está doente. O ladrão passa pela sua casa e não sabe que dentro um homem morre. Chega a uma porta negra e entra. No interior, a sua mulher ainda na cama, como uma galinha chocando, sobressalta-se ao ver o ladrão exibindo o seu saco vazio, a galinha abraça-o e diz-lhe que não importa. Esgotado estende-se sobre a cama, acende o televisor e fica profundamente adormecido.



quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

[Lançamento] São Paulo em palavras

São Paulo em palavras, o lançamento ocorre no dia do aniversário da cidade, 25 de janeiro, no Sesc Pinheiros, com a presença dos escritores e sarau





São Paulo em conto, prosa e verso pelas palavras de Alessandro Buzo, Alex Richards, Amara Moira, Ana Maria González, Andrea Pelagagi, Bruno Brum, Brunno Almedia Maia, Daniel Arruda, Dennis de Oliveira, Erika Balbino, Fábio Bardella, Gu Tramontin, Janaina Abreu, Jenyffer Nascimento, João Diniz, Jonas Worcman, José Santos, Lívia Prado, Paulo Rafael, Pedro Gabriel, Roberta Scatolini, Selma Maria + Nina Anderson, Vanessa Farias, Wagner Merije e do saudoso Mário de Andrade.

Para celebrar a cidade, um grupo de escritores foi reunido pelo editor e artista múltiplo Wagner Merije para criar uma obra única e coletiva que mostrasse a relação de cada autor com a metrópole. O resultado é a antologia São Paulo em Palavras, compêndio de 160 páginas à venda por R$ 30 que será lançado em 25 de janeiro, no Sesc Pinheiros.

"...A ideia é descortinar e mostrar a capital revista por paulistanos e paulistas, por brasileiros de outras partes do país e de fora dele, por gente das periferias e universidades, com formações diversas e atuações em vários movimentos e que vivem a cidade com intensidade...", afirma Merije, organizador do livro.

No título, cada autor apresenta suas criações em seis páginas. Amor, amizade, tensão, delírio, autoconhecimento e mapas sentimentais que trazem à tona lugares, personagens, momentos históricos e suas relações afetivas sobre esta instigante cidade que completa 463 anos.

“...Em quase meio século de existência, São Paulo se tornou uma metrópole superlativa em tudo, inclusive na diversidade. Por motivos assim, é muito válido dedicar uma obra artística de percepções múltiplas para a pauliceia. A concepção grega de percepção incluía a provocação do reconhecimento, de admitir que cada coisa tem alma, paixões, amor, fascinação capaz de provocar uma reciprocidade afetiva no sujeito percebedor. São representações abertas sobre São Paulo a propor o diálogo e a interação...”, complementa Merije, no prólogo do livro.

São Paulo em Palavras tem a orelha assinada por Alexandre Staut, escritor, editor, criador da revista São Paulo Review.


O lançamento acontece no dia do aniversário da cidade, 25 de janeiro (quarta-feira), das 17h às 19h, no Sesc Pinheiros, com direito a sarau com participação de vários escritores e microfone aberto para o público.



Foto: Lívia Prado

Lançamento com Sarau do livro 
São Paulo em palavras
Data: 25/1/2017
Horário: 17h às 19h
Local: Sesc Pinheiros
Entrada: livre

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

[Conto] Un ladrón, por Edwin Madrid

YO ESTABA DURMIENDO calladito, el ladrón abrió la puerta con la llave maestra que tienen todos los ladrones. Dormía a pierna suelta, el sueño es una cosa más bonita que un ladrón, pero él empezó a andar en puntillas, doblando la punta de sus zapatos de goma, no hacía ningún ruido, se imaginaba que yo dormía a pierna suelta junto a mi mujer, que a mi lado dormía como un enorme pájaro al que la noche había sorprendido en su migración hacia el sur. Yo, soñaba en un niño que tenía cabeza de armario, era mi amigo, se reía cuando le pedía que vayamos a jugar fútbol, su risa era el ruido de las puertas. El ladrón, había abierto la puerta de mi habitación. Se percató de que soñaba en un sueño, y de que mi mujer dormía como una golondrina gigante junto a mi. Yo en plena cancha jugando con el cabeza de armario, que ganaba todas las pelotas por alto. Le decía: en los córners tienes que subir, y él respondía: no loco, después quién se queda atrás, no puedo regresar tan rápido. Rápidamente el ladrón cerró la puerta, bajó a la sala; allí sacó un bolso en el que cabían el refrigerador, la televisión, mi máquina de escribir y, sobre todo, la bicicleta de mi hija. Pero cuando estuvo frente al televisor, inteligentemente, decidió comprobar su funcionamiento, lo encendió justo cuando en la pantalla aparecía Woody Allen en La rosa púrpura del Cairo. Yo le mandaba al cairo al cabeza de armario, por su culpa nos hicieron el primer gol, el partido se nos estaba poniendo cuesta arriba y, abajo, el ladrón, matándose de la risa, viendo la televisión pero se dio cuenta de que hacía mucha bulla, así que se tapó la boca con las manos y siguió riéndose con la boca tapada. Mano en el área, yo voy le dije al cabeza de armario. Coloqué la pelota en su sitio y la pateé con fuerza, con fe, la pelota en su vuelo de golondrina, se anidó en un costado del arco, volviendo la sonrisa al rostro del cabeza de armario, mientras Woody ponía cara de estúpido porque no comprendía lo que pasaba en su película, el personaje salía de la pantalla y le hablaba. Mi mujer, como un montoncito de plumas durmiendo a mi lado con las alas desplegadas, una pelota despejada al vacío a la que llego rompiendo la trampa del ofside y empalmo un balazo que pega en el horizontal, el cabeza de armario entusiasmado grita: ¡Esa es Madrid! ¡Esa es! El ladrón con la sonrisa en las manos, acerca una silla y se sienta a mirar la película. Mi mujer sueña que es un hermoso pájaro que sale volando por la ventana; yo, casi agotado porque a los tiempos que juego, me aproximo al cabeza de armario que sudoroso abre sus puertas y juntos vamos hacia las duchas. Mi mujer vuela por el cielo del barrio enterándose de lo que pasa en cada una de las casas. Siento un chorro de agua que me calma, y al mismo tiempo, me despierta con sed. Enciendo la luz, veo que mi mujer duerme, dulcemente, agarrada de su plumón. Me dirijo a la cocina, al atravesar la sala, el ladrón se pone en guardia, y me dice: deberías seguir durmiendo. Respondo: y usted no debería entrar en las casas a esta hora a ver televisión,  él responde: es verdad, yo debería estar robando pero la película está tan entretenida que me olvidé a lo que vine, y me invita a sentar. Woody Allen parece estar enamorado de su personaje. ¡Ah! digo: es La rosa púrpura del Cairo, siempre pasan buenas películas a esta hora. Fíjate que no sabía me dice, el ladrón, amigablemente. Así es le digo. Creo que están pasando un ciclo de Woody Allen; ayer dieron Días de radio. Si es así tendré que cambiar de horario dice. Ya lo creo, digo, porque parece muy estúpido que se siente a mirar la televisión cuando debería estar robando. Lo que pasa es que esperaba un comercial pero a esta hora no han sabido pasar. Pues me admira que un ladrón tan instruido no sepa, digo. Bueno, dice, fíjate que no, como la televisión es una porquería, nunca imaginé que las buenas películas pasen en esta hora y sin cortes comerciales. Ahora, ya lo sabe, dije, así que lárguese de mi casa. ¡Ehpa! Dijo, no te parece absurdo que me vaya con las manos vacías. De ninguna manera, le dije, se va llevando el conocimiento que las buenas películas pasan en la madrugada, no cree que es suficiente. Sí,  claro, dijo, pero a quién le sirve, cómo puedo llegar donde mi mujer con el bolso vacío. Ese es su problema, le dije, nunca he visto un ladrón tan torpe. Así hablábamos hasta que mi mujer llegó volando, se posó en el espaldar del sillón, y empezó a gritar como lora: ¡qué pasa! ¡qué pasa! El ladrón, extrañado de ver su plumaje, dijo: nada, que en vez de entrar a robar, he llegado a ver la película. ¡Ah! Exclamó mi mujer, mirando hacia el televisor, es La rosa púrpura del Cairo. ¡Buena película! Y se pusieron a conversar sobre cine, directores y actores, hasta que amaneció y apareció mi hija en pijama trayendo una hermosa rosa azul metálica que la entregó al ladrón diciéndole: la he cortado para ti, porque escuché que te gusta mucho La rosa púrpura del Cairo. El ladrón, casi abochornado, la tomó con una sonrisa, se puso en pies y dijo: es hora de que me marche, estoy empezando a tener sueño. Pues lárguese, le dije, recogiendo su funda que la lancé al rostro. El ladrón, abrió de nuevo la puerta y salió. Iba pensando como el personaje salía de la pantalla y conversaba con Allen. Se preguntaba: ¿habrá películas, en las que después de robar, uno pueda salir de la pantalla y confundirse entre el público? Caminaba con sus zapatillas que a la luz del día eran rojas como dos tomates. De pronto, un perro empezó a ladrarle empecinadamente, se acordó que en uno de sus bolsillos llevaba comida para entretenerlos pero cuando iba a echársela, el perro se paró firmemente y dijo: ¡Qué! ¿No te das cuenta de que soy un perro policía? El ladrón, cabizbajo, tomó otro poco de comida y le lanzó, el perro atrapándola en el aire y moviendo la cola se marchó. ¡Qué película más buena! Que uno pueda entrar por la pantalla a la casa de Hudson, de Stallone y robarles todo, incluso sus aficiones sexuales, seguía pensando mientras salía de la ciudad y se internaba en uno de esos barrios marginales. Vio que un pájaro volaba y se acordó de mi mujer, entró por un callejón donde un borracho al pasar por su lado, botella en mano le saludó: ¡Hola Carlos! Sírvete un trago.  El ladrón, se llama Carlos, o más conocido como Carlangas el mago, el que al ingresar en una casa desaparece con todo. Nuevamente un perro se cruza, el ladrón exclama: ¡Oh! Un perro, y sigue. En la casa de la esquina un hombre arde en fiebre. El ladrón observa que dos niños han hecho un círculo en el suelo y juegan lanzando bolas, el uno le dice al otro ¡Estás muerto! Y el otro responde ¡Mentira! Recogiendo su bola del círculo. El hombre de la casa esquinera está enfermo. El ladrón pasa por su casa y no sabe que adentro un hombre se muere. Llega a una puerta negra e ingresa. En el interior, su mujer todavía en la cama, como una gallina empollando, se sobresalta al mirar al ladrón exhibiendo su bolso vacío, la gallina le abraza y le dice no importa. Agotado se tiende sobre la cama, enciende el televisor y queda profundamente dormido.

Edwin Madrid (Quito, 1961). Publicó los libros: Todos los Madrid, el otro Madrid (España, 2016), Mordendo ofrio (Portugal, 2016), Au Sud de l´equateur (Francia 2016), Pavo muerto para el amor (Argentina, 2012), Lactitud cero° (Colombia, 2005),  Mordiendo el frío (España, 2004), Puertas abiertas (Ecuador, 2001), Open Doors (U.S.A., 2000),Tentación del otro (Ecuador, 1995), Tambor sagrado y otros poemas (Ecuador, 1995), Caballos e iguanas (Ecuador, 1993), Celebriedad (Ecuador, 1992), Enamorado de un fantasma (Ecuador, 1990), ¡OH! Muerte de pequeños senos de oro (Ecuador, 1987). Tiene las antologías: Pararrayos (España, 2012), Mordiendo el frío y otros poemas (Cuba, 2010), Mordiendo el frío y otros poemas (Ecuador, 2009) y La búsqueda incesante (México, 2006). El 2004, en Madrid, recibió el Premio Casa de América de Poesía Americana, también alcanzó el Premio Único de Poesía Ministerio de Cultura y Patrimonio 2013, por su libro Al Sur del ecuador, el Premio Escritores Ecuatorianos de los 90, entre otros. Sus poemas aparecen en varias antologías de la poesía contemporánea hispanoamericana: Jinetes en el aire (RIL Editores, 2011), Poesía latinoamericana hoy (Ediciones fósforo, 2011), Cuerpo Plural (Pre-Textos, 2010), Our Own Words: A Generation Defining Itself (MW Enterprises, 2010), Un país imaginario (Ruido Blanco, 2011), Una alegre gravedad (Difácil, 2007), ZurDos (Paradiso, 2004), El turno y la transición (Siglo XXI editores, 1997). Tiene traducciones al árabe, inglés, portugués, alemán, francés e italiano. Ha sido invitado por las universidades de Cincinnati, Zûrich, Viena, Granada y realizado lecturas de poesía en Latinoamérica, Estados Unidos y Europa. En el 2011 fue escritor residente en la mítica MEET de Saint-Nazaire, Francia.
Editor de Poesía completa, español/ inglés, de Jorge Carrera Andrade (2003), compiló la Antología poesía ecuatoriana del Siglo XX (2007).  Se desempeña como director de los Talleres de Escritura Creativa de la Casa de la Cultura Ecuatoriana en Quito. Dirige la colección de poesía de la editorial Ediciones de la Línea Imaginaria.

[Conto] A Ceia dos Solitários, por Henry Alfred Bugalho

O primeiro Natal sozinho. Na memória, as festas de infância com toda a família reunida. Peru. Árvore com luzes e bolas coloridas. O tio fanfarrão fantasiado de Papai Noel, provavelmente bebadaço. A primaiada correndo de um lado ao outro, e um que sempre acabava na reta da varinha de marmelo da vó.
Mas hoje é Natal. O nascimento de Jesus. Alguém dizia, mas nem isto servia para poupar das lambadas. Há quanto tempo isto? Dez, quinze anos atrás.
O primeiro Natal sozinho. Papai já havia morrido há muito. Mamãe, ano passado. Já morava fora e não fui ao velório. Minha irmã nunca me perdoou. Até hoje não nos falamos.
O primeiro Natal sozinho. Está nevando lá fora de novo. Dizem que este inverno será particularmente rigoroso, com mais nevascas previstas para janeiro.
Cidade de merda. Murmuro em pensamentos vendo os flocos brancos deslizando lentamente até a rua lá embaixo.
Pensei em voltar este ano, mas para quê? Os que não estavam mortos, já haviam morrido por dentro. Os primos todos espalhados pelo país, cada um em seus cantos, com suas respectivas famílias. Seria um Natal tão triste lá quanto aqui.
Natal branco, como nos filmes, mas ninguém conta sobre a tristeza que dá ao mergulhar na escuridão e no frio. Natal branco é morte, e muitos se suicidam nas vésperas do Natal.
Nasce o menino-Jesus, outros cortam os pulsos no chuveiro.
Não vou ficar aqui pensando em tais coisas. Hoje não. Porque não.
Visto meu casaco e saio porta afora, correndo escada abaixo e encarando o vento gélido e atolando os pés em trinta centímetros de neve.
Há um bar a três quadras de casa. É pra lá que vou. Uma meia dúzia de gatos pingados se perde na meia luz, alguns sozinhos nas mesas, outros sozinhos no balcão. O que nos une é a solidão.
Peço uma Lager e o bartender logo enche o caneco. Dou um gole e, quando pouso a bebida no balcão, meu olhar encontra os dela do outro lado.
Uma alemã típica, meio corpulenta, loura e rugas ao redor dos olhos azuis. Tem uns vinte anos a mais do que eu, calculo. Não faz bem o meu tipo, mas, mesmo assim, sorrio pra ela.
Sem hesitar, ela se levanta e senta-se ao meu lado, mas, por vários minutos, não diz nada. Nem eu, sem reação, um pouco intimidado, confesso.
Este será o meu último Natal. Ela diz, por fim. O último.
Permanecemos quietos, eu com o “Warum?” entalado nas entranhas.
Me deram mais três meses apenas. Depois, acabou. Ela disse.
Era tão nova. Fitei-a com cuidado agora, quase descaradamente.
Sei o que você está pensando… Câncer. E ela deslizou a mão por sobre o seio. Assim como a minha mãe. Ela disse.
Sinto muito. Respondi. Sinto muito…
Obrigada. Ela disse, repousando a mão dela sobre a minha.
Estremeci. Ela não fazia o meu tipo, e reconheço que tive um pouco de medo, como se a morte estivesse pairando sobre nós dois naquele momento.
Quer vir para a minha casa? Perguntei, num impulso, sem nem bem entender por quê. Tinha pena, sem dúvida alguma, mas não havia sido apenas isto.
E ela veio.

Não tenho nada para preparar para nós. Eu disse, abrindo os armários da cozinha.
Qualquer coisa está bom. Ela respondeu, sentada no sofá da sala. Só não queria ficar só. Esta é uma época muito triste, mas é muito pior quando não temos mais ninguém. Onde está sua família?
No Brasil. Eu disse. Mas não quero falar sobre isto.
Preparei umas salsichas e um espaguete. Comemos em silêncio, escutando o ruído delicado da neve na vidraça e os sons das bocas mastigando.
Por que me trouxe pra cá? Ela perguntou.
Não sei. Acho que também não queria estar só esta noite.
Vai dormir comigo? Ela perguntou, e me desarmou.
Se quiser… Respondi.
Não quero. Não como um homem e uma mulher, pelo menos, mas como pessoas, como os seres humanos que somos. Você podia simplesmente se deitar comigo e me abraçar bem forte e sussurrar no meu ouvido que tudo ficará bem, que eu não sofrerei, que o fim será plácido como um pôr do sol, então eu adormecerei e este terá sido um bom dia; um dia a menos, um dia mais próximo do fim, menos um dentre os noventa dias que me restam. Faria isto por mim?
Eu a puxei pela mão até o meu quarto, sempre muito bagunçado, com livros, meias e cuecas no chão; sem ordem nem propósito como a vida.
Você é apenas um rapaz… Ela disse. Ainda verá e viverá muitas coisas estranhas. Esta noite terá sido apenas uma delas.
Nós nos deitamos um do lado do outro e eu a abracei por trás. Ela puxou a minha mão para o seio dela – o do câncer, suponho – e ficamos assim por sabe-se lá quanto tempo.
Ela adormeceu, então me levantei e fui para a sala levemente iluminada pelas luzes de fora que atravessavam a janela.

Ainda nevava. Não estava mais sozinho. No quarto, dormia uma mulher cujo nem o nome eu sabia. Ela morreria em breve. Eu morrerei um dia. Tudo vai ficar bem. Sussurrei. Tudo vai ficar bem.

Henry Alfred Bugalho é curitibano, formado em Filosofia, com ênfase em Estética. Especialista em Literatura e História. Autor dos romances “O Canto do Peregrino”, “O Cão Cego da Guardia Vieja” e “The Parallel Life of your Dog”, das novelas "O Covil dos Inocentes", "O Homem Pós-Histórico" e "Margot Adormecida", e de duas coletâneas de contos. Editor da Revista SAMIZDAT e fundador da Oficina Editora. Autor do livro best-selling “Guia Nova York para Mãos-de-Vaca” e do "Nova York, Bairro a Bairro", cidade na qual morou por 4 anos, e do "Curso de Introdução à Fotografia do Cala a Boca e Clica!". Residiu em Buenos Aires, Itália, Portugal, Espanha e Inglaterra com sua esposa Denise, o filho Phillipe e Bia, sua cachorrinha. Atualmente, levam uma vida nômade residindo em mês em cada cidade diferente na Europa.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

[Conto] ¿Te gusta Vallejo?, por Orlando Mazeyra Guillén



Es sábado. Cuatro de la tarde. Estoy dentro de una cabina de internet de la avenida Salaverry. No hay mucho que decir. Releo las dos carillas y siento que algo no encaja. Todo sobra. Las frases son artificiosas. Tres tardes consecutivas frente al editor de texto de una computadora pública. Por eso selecciono el texto y lo borro. Grabo para que sea irreversible y cierro el editor. No es fácil aceptar que uno está en blanco. Y si no está en blanco, entonces arma párrafos rengos, contrahechos, deleznables.
De pronto, Carmen aparece conectada en la red social. La saludo sin perder el tiempo: «No te veo desde que me fui de la revista».
—Esa revista… prefiero no recordarla.
—Bueno, olvídala entonces. Sólo te quería saludar y regalarte un libro —busco un buen pretexto.
—¿Estás en Lima?
—Sí, en Jesús María, ¿tendrás tiempo ahora en la tarde?
—Vivo en Los Olivos… ¿Podrás llegar?
—Haré el intento.
Me dice que tiene sesión de gimnasio a partir de las siete de la noche. Una hora para conservar la línea: «mi gym es sagrado», alega. Me sugiere que caiga a eso de las seis de la tarde y que la espere en la avenida Carlos Izaguirre, donde queda la municipalidad de ese distrito: «es la mejor referencia que te puedo dar, porque si te doy la dirección de mi casa creo que no llegas ni para Navidad».
Cuando arribo a la avenida Izaguirre, descubro que se trata de una ciudad dentro de otra. Algo común: San Isidro es otro país, Miraflores y Barranco no tienen nada que ver con El Agustino o El Rímac. Ya son las seis y media. Una impuntualidad imperdonable. Le envío un mensaje de texto, disculpándome de la manera más pueril: «siempre me pierdo en esta ciudad, pero ya estoy en la muni de Los Olivos».
—¿En serio estás allí? —pregunta, incrédula.
—Sí.
—Pensé que me estabas floreando.
—Yo no floreo —miento.
—Como no llegabas me metí al gimnasio. Me hice a la idea de que no vendrías. Ya empecé mi rutina y recién salgo a las ocho. ¿Qué harás?
—Te espero.
Me fumo media cajetilla de cigarros y tengo el estómago vacío. Si fumo uno más empezaré a sentir arcadas. Llega un punto en el que el humo del tabaco, en vez de producirme placer, me enferma. Dificultades que vienen de la mano de la abstinencia. Hay una imagen terrible en la cajetilla y un mensaje espeluznante: «fumar causa aborto». Antipublicidad estúpida, inútil: un feto amoratado.
Busco una cabina y hago hora. Se conecta Daniela. La conocí en la presentación de una revista de crónicas, es simpática —aunque algo huraña—, se acaba de mudar a Arequipa. Le meto letra y me dice que no tiene ganas ni de chatear: está muy triste.
—¿Qué te pasó?
—Hay recuerdos que no encuentran salida y explotan.
—Entonces busca una válvula de escape —le sugiero.
—Tengo miedo de enfrentarme a mí misma: es como verme en el espejo y, de pronto, me doy cuenta de que soy un animal con un solo ojo. Así me pienso. Espero que no te rías.
—Da lo mismo. Estoy en Lima, si me estuviera riendo jamás te enterarías. Pero quizá sientes que has perdido un ojo porque las esquirlas de una granada te lo dañaron.
—Bueno, te cuento mi drama. Hace unos días recibí una llamada de Tacna, era mi padre.
—¿Y te pidió que volvieras a casa?
—No, nada de eso. Me dijo que por fin el Estado nos depositó lo de nuestra reparación civil.
—¿Y eso?
—Te cuento que soy una víctima… así me llama el Estado: «víctima del terrorismo».
—¿En serio?
—Sendero asesinó a mi madre.
—¡Qué fuerte noticia, Daniela, no es como para darla por el Facebook!
—Sí, lo sé, pero en el Facebook la gente pone hasta la ropa que está escogiendo, el cebiche que está comiendo, la canción que está escuchando. ¡Yo tengo derecho a decir lo que sí importa!
No sé qué argumentar (me quedo en blanco como ante el editor de texto) y ella prosigue: «Ahora me entenderás. El caso es que, después de 24 años, en los cuales vi y acompañé a mi padre en ese reclamo que se convirtió en su lucha personal, por fin le depositaron una reparación».
Pienso que ya aseguró su futuro. Me imagino una cifra contundente (¿por qué el dinero seduce tanto?):
—Diez mil soles —me dice sin anestesia.
—¿Diez mil soles?
—Sí: cinco mil para él y el resto entre los hijos. Somos tres hijos.
—Es para volverse locos…
—Así es. Toda esta semana aunque quise evitar que el tema me tocara el corazón, no pude hacerlo. Estoy llorando mientras te escribo.
—Es que, Daniela, es inevitable. Debes estar sintiendo cosas terribles, impronunciables.
—Me quise olvidar de los sentimientos y, fríamente, pensé: son mil seiscientos soles. Plata es plata. Y quise verlo así. Luego dije que si el Estado me insultaba con su «reparación» entonces yo me denigraría más yéndola a cobrar…
—¿Y en qué quedó todo?
—Pues, mi padre insistió: me dijo que fuera de todas formas al Banco de la Nación. Así que fui. Y no había nada. Lo peor es que quien me atendió lo hizo con la actitud de quien me estuviera regalando algo, dando una limosna. Tenía ganas de darle un par de cachetadas pero me quedé callada. Y me sentí negra, vacía... ausente. Recién al llegar a mi casa, rompí mi espejo y exploté en llanto.
—Cálmate, sé que no es fácil, pero ten calma.
—Es que no entendía nada de lo que pasaba hasta que me miré de nuevo y ahí estaba, frente al espejo rajado, como una bestia con un solo ojo… Tan «víctima», como me dicen. Ese es mi drama de estos días. Ese es el drama de mi vida.
—Disculpa la indiscreción, pero, ¿por qué víctima? ¿De qué manera murió tu madre?
—Mi padre era del Apra. Trabajó en el que hoy llaman Gobierno Regional de Ayacucho durante el primer gobierno de Alan García.
—¿No eras tacneña?
—No. Soy una «víctima», y no sabes cómo me revienta utilizar esa palabra. Mi familia fue desplazada por la violencia, nos sacaron de Ayacucho, de allí es mi familia.
—¿Los terrucos querían matar a tu padre?
—Sí, todo eso pasó en 1989.
—¿Y por ser del partido de gobierno?
—Sí, eso se decía. Mi padre terminó decepcionándose hasta de su partido. Dice
que nadie le tendió la mano… Oye, espero que no tomes esto como catarsis. Ya me dio
roche… Además creo que tú detestas a los apristas. ¡Qué roche!
—¿Roche? Pero si es algo terrible. ¿Entonces Sendero Luminoso mató a tu mamá?
—Eso está probado, totalmente. Hasta tengo mi credencial. Suena absurdo, pero es así.
—¿Y qué dice la credencial?
—Acredita que estoy dentro del Plan de Reparaciones…
—Cuando asesinaron a tu madre, ¿qué edad tenías?
—Suena a entrevista, Orlando.
—Es que parece increíble…
—Tenía apenas dos años.
—Sin duda, esa es la herida más grande que tienes…
—Más que una herida es una bomba, aunque suene a humor negro por lo que le pasó a mi mamá, es una bomba… que nunca terminó de explotar.
—¿Nunca has vuelto a Ayacucho?
—Sí. Esa es otra novela. Regresé dos veces. La primera, de muy niña, casi ni sentí ese retorno. La segunda fue hace dos años, ese viaje sí me remeció.
—¿Qué te dejó ese retorno?
—Un rompecabezas incompleto. Una vida que nunca será. Seré una exiliada de por vida. Siempre me vienen ganas de volver. ¿Pero a dónde? Adonde nunca me encuentro.
—¡Diez mil soles! —insisto sin comprender.
—Quisiera no recibirlos. Y, aunque no los quiero, es algo que estará a mi nombre. Es algo que recibiré sin desearlo. Lo que me corresponde como hija son mil seiscientos soles, como ya te lo dije. ¿En qué gastar ese dinero? Recibir esa plata, en vez me hacerme sentir víctima, me hace sentir culpable, cómplice. No sé.
—La verdad, Daniela, es que debes estar con ganas de romper muchas cosas más que un espejo...
—Ya no hay nada que romper. Lo más importante está roto. Por dentro, por donde no se ve, estoy hecha añicos.
—¿Crees en Dios?
—No pienso en eso.
—Pero, ¿no piensas en dónde podría estar tu madre?
—Mira, de niña hablaba con ella. Ahora no sé, ella sólo aparece cuando la pienso, cuando intento fabricar recuerdos. Es imposible.
—Cero recuerdos…
—Así es. No tengo ni qué recordar. Mi pasado es fotos a medio quemar, datos en revistas, recortes de periódicos, voces en casetes. Terror, espanto, reclamos. No más que eso.
—Y si pudieras verla, ¿qué le dirías o preguntarías?
—No lo sé, no he pensado en eso. Y si lo pensara no te lo diría, espero que me comprendas porque ya te he dicho bastante.
—Escribe sobre eso, Daniela, la idea es que hables con ella cuando escribes. Es sólo una sugerencia.
—Me gusta la idea. Debo ahorrar primero. Por eso trabajo. Por eso me disfrazo de relacionista pública y le sonrío a los zombis de mi oficina. Primero me compraré una laptop y luego empezará lo difícil.
—Daniela, no te quitarás el peso de encima hasta que escribas. Y si no tienes una máquina disponible entonces escribe en una cabina como yo.
—Todos los días repaso todo, recuerdo para no olvidarlo. Todos los días me atormento. Todos los días me miro al espejo.
—Me sentiré mejor cuando me digas que todos los días escribes…
            —No es fácil: una muerte se lleva más vidas. Mi padre y yo ya no somos lo que éramos. O no sé si algún día lo fuimos. ¿Padre e hija? Nunca.
            —Nadie sabe cómo enfrentar la vida, todos vamos a tientas... el «problema» es que a ti te la pusieron difícil de arranque.
            —Lloré tantas veces con Vallejo. Él y yo nos entendemos. Yo era un árbol seco hasta que leí a Vallejo. Iré a releerlo y luego a dormir. Disculpa por soltarte todo este rollo. Creo que ya no necesitaré un psiquiatra.
            «Ojalá algún día yo tampoco lo necesite», pienso y, al poco rato, Carmen me llama al celular. En verdad, ya la había olvidado. Acaba de salir del gimnasio. Me despido de Daniela y le deseo lo mejor pero no será fácil, pues «hablamos del peligro de estar vivos», como dice la melodía. Su madre ya no lidia con ese reto: vivir.
Carmen luce un buzo ceñido que dibuja bien sus formas. Es bella pero hay algo frívolo en sus maneras (su conducta, su forma de hablar) que me distancia: «Me acabo de alaciar el pelo. ¡Ni te diste cuenta!». Quisiera estar en la puerta de la casa de Daniela,
tocarla, darle un abrazo y, si me lo permite, un beso.
            Reconozco un mohín de incomodidad cuando cruzamos la pista y hay muchas miradas atentas, transgresoras: «Detestas este distrito, no me mientas».
            —¿Qué dices?
            —Que te gustaría vivir en San Isidro o Miraflores, así no te harías paltas en dar tu dirección. ¿O me equivoco?
            —Yo quisiera vivir en Londres. Es más: estoy ahorrando para eso.
Daniela sueña con una madre a la que no pudo conocer por culpa de Sendero Luminoso. Carmen sueña con una ciudad que sólo vio en películas o videoclips. Yo sufro de insomnio y no tengo más historias.
—¿Te gusta Vallejo? —le pregunto por decir algo o quizá para encontrar un nexo entre ella y Daniela.
—Ay, apenas tengo tiempo para ir al gym y para arreglarme el pelo y quieres que me ponga a leer poesía. ¡No te pases!
Tomamos un café: hablamos de Madonna que, según Carmen, tiene un cuerpo perfecto... de Susana Giménez, que es su diva favorita: «Gisela no le llega ni a las rodillas». Y, claro, me cuenta la vida completa de Alessandra Rampolla: «cuando vino a Lima me tomé una foto con ella». Mientras la escucho con fingida atención, me siento un embustero.
—¿Pero no me ibas a regalar un libro? —me pregunta cuando nos despedimos.
—No lo he traído —le miento.

Ella se hace la desentendida y sonríe de una manera mecánica. Entonces, ante tanta patraña, Los Olivos se disfraza de San Isidro: pintándose de colores.


Orlando Mazeyra Guillén (Arequipa, Perú, 1980). El 2016 publicó sus dos últimos libros de narrativa en Arequipa Bitácora del último de los veleros (Aletheya) e Instrucciones para saltar al abismo (Doce Ángulos). Colabora desde el 2012 con el semanario Hildebrandt en sus trece. Su libro Mi familia y otras miserias apareció en Tribal (Lima, 2013). El 2014 se reeditó su libro de relatos La prosperidad reclusa. Ha publicado ficción y no ficción en El Malpensante (Colombia), Punto en línea (UNAM, México), Buensalvaje (Perú) y otros trabajos narrativos en revistas literarias virtuales como Hermano Cerdo (México), Badosa.com (Barcelona) y en el Proyecto Patrimonio de Santiago de Chile. Ha sido incluido en las antologías Disidentes 2: los nuevos narradores peruanos 2000-2010 (Ediciones Altazor, 2012), 17 cuentos peruanos desde Arequipa (Biblioteca Regional Mario Vargas Llosa, 2012) y 20 cuentos arequipeños (Ministerio de Cultura del Perú, 2016). Prologó el libro En busca de la sonrisa encontrada de Oswaldo Reynoso y es considerado por éste: “un alucinado y auténtico cuentista”.